Viajar no Mundo Analógico
Sempre gostei muito de viajar, desde adolescente, incentivado pelo meu pai. Hoje tenho uma boa quilometragem, tanto em viagens como em idade. Conheço mais de 200 cidades em 24 países, tenho 62 anos, e quando eu era adolescente, um menor de idade só poderia viajar desacompanhado se tivesse uma autorização dos pais, emitida pelo Juizado de Menores. Claro que meu pai sempre autorizava, até que em uma determinada época passou a ser possível fazer uma autorização anual. Prato cheio! Meu pai renovava a minha todo ano!
Eu só fiz minha primeira viagem internacional, aos 34 anos, depois de conhecer praticamente todas as capitais do Brasil. Mais uma vez foi meu pai meu inspirador, que dizia que eu poderia aproveitar muito mais algum lugar no exterior se pudesse fazer comparações com o meu próprio país. Coisa de gente sábia...... E foi assim que fiz.
Importante lembrar que até a década de 1990, viajar ao exterior era coisa de uma classe privilegiada, que de forma alguma era meu caso. Mesmo para viagens dentro do Brasil, as passagens de avião eram muito caras, pois a concorrência praticamente não existia. Se o destino fosse alguma capital longe de São Paulo então, como no nordeste, por exemplo, era comum se fazer uma “perna” de ônibus e a outra de avião. Mesmo assim fazendo um carnezinho para pagar as prestações da passagem aérea. Quantos carnês de Varig, Vasp e Transbrasil eu tive!

TransBrasil em 1991
Bom, depois de conhecer muitas capitais e cidades do Brasil inteiro, fiz minha primeira viagem ao exterior e o destino escolhido foi Cuba. Eu tinha decidido que minha primeira viagem pra fora do país seria ou para um país com regime político diferente do nosso ou para um lugar de cultura muito diferente da nossa, no Oriente Médio ou na Ásia. Cuba foi o que o dinheiro pode comprar........
Depois dessa primeira viagem “pra fora”, sempre que possível fiz uma boa viagem a cada 2 anos. Mas o que eu queria mesmo comentar é sobre como era viajar na época pré-internet. Imaginem que só havia três maneiras de se obter referências sobre hospedagem, alimentação e atrações turísticas e o que conhecer nos destinos: através de uma agência de viagens, pagando por isso, através de alguém que já tivesse ido pro destino desejado, ou pegando referências em publicações especializadas e usando o telefone para fazer uma ligação internacional, que custava muito caro. Parece piada né ? Mas era assim que funcionava para quem fazia turismo “normal”.
Já pra quem tinha “espírito mochileiro” a coisa era mais engraçada ainda. Normalmente estudava-se mais ou menos o destino, conversava-se com pessoas que já tivessem ido, e pronto. Era só pegar o avião, chegar ao destino e sair à procura do “i” salvador. I de “escritório de informações turísticas” tão comuns na Europa e tão raros no Brasil. Nas estações de trem então a coisa era mais surreal ainda. Existiam 2 guichês: um pra compra de passagens e um pra informações sobre hotéis. O interessante é que existia um aviso em cada um deles: ”só pra informações sobre passagens” e “só pra informações sobre hotéis”. Se você errasse a fila, ferrou !!!
Fiz muitas dessas viagens “no escuro” e sempre foi muito divertido. No mínimo ganhava-se experiência e histórias pra contar. Hoje, com a possibilidade de se saber quase tudo sobre o destino desejado, ser possível reservar hotel, comprar passagens, ingressos pra shows e concertos, entradas para atrações turísticas sem pegar filas, e outras maravilhas que a internet possibilita, tudo ficou muito mais fácil. Mais fácil, porém de forma alguma menos encantador. Viajar sempre foi e sempre será uma grande experiência de vida, uma possibilidade de autoconhecimento, uma oportunidade de ampliar horizontes, fazer novas amizades e, como eu sempre digo, a melhor viagem está por vir. A melhor viagem sempre será a próxima!
Abraço a todos e boas viagens
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COMENTÁRIOS:
Caio Martins comentou 8 anos atrás
Muito legal seu texto. Viajar no modo analógico tem seu charme!
Aldo Cruz comentou 8 anos atrás
Tinha muito charme sim Caio, e percalços também :-)
RUTECN comentou 8 anos atrás
Muito interessante! Comecei a viajar em 2003, e a maior dificuldade que tinha era mandar notícias para casa; não podia me dar ao luxo de ficar ligando e só mandava e.mails pelo computador do hotel, rapidinho por causa da fila. É tão gostoso lembrar dessas coisas!...
Leandro Lacerda comentou 8 anos atrás
Ótimo relato amigo! Parabéns
Aldo Cruz comentou 8 anos atrás
Valeu Leandro :-)
Grazi Fiori comentou 6 anos atrás
Amei tua escrita Aldo! Que maneira linda e leve de encarar as mudanças e novidades. Isso sim é ter alma de viajante.
Aldo Cruz comentou 6 anos atrás
Obrigado Grazi, e boas viagens pra você :-)