Felizmente, eu nunca fui uma pessoa avessa a mudanças. Infelizmente, nunca tive dons artísticos. Aproximando os opostos da vida, fiz das tatuagens e das viagens transformações corporais e de alma. Cada nova viagem, um novo espaço marcado no mapa. Cada nova tatuagem, um novo espaço marcado no corpo.

Em junho de 2015 fiz o meu primeiro mochilão com mais quatro amigas. Roma foi o nosso ponto de partida, pois uma delas estava morando na cidade há algum tempo e conseguiria guiar a mim e as outras duas com tranquilidade. Roma foi amor à primeira vista.

Juntas, visitamos alguns dos principais pontos turísticos locais: Coliseu, Piazza Navona, Basílica de São Pedro, Pantheon, Castelo de Sant'angelo e, claro, Vaticano. Inicialmente, nosso roteiro contemplava cinco dias na cidade. Para mim, especialmente, que era a responsável por unir as outras 3 amigas nessa trip, aquele tempo ali significava muito. Me trouxe lembranças de todos os momentos que já havíamos passados juntas e me fez notar, com o coração cheio de amor e gratidão, como era importante viver aquilo tudo exatamente com as pessoas que me acompanhavam.

Durante um almoço descontraído em Trastevere – região boêmia, bem charmosa, no centro da cidade – no que deveria ser nosso último dia em Roma, papo vai, papo vem, comentei sobre minha vontade de fazer uma tatuagem. Justamente lá, sabíamos da existência de um estúdio bem recomendado. Perambulamos por todas as ruelas e, quando finalmente o encontramos, decepção: as portas estavam fechadas. Já havia terminado o horário de atendimento. Confesso que depois de um dia tão agradável, bateu aquela pontinha de frustração. Mas não havia o que ser feito. Fim de papo, fim de almoço, fim de dia.

Antes de pegarmos o avião para Bruxelas na madrugada seguinte, fomos a uma balada na Rampa Prenestina, um espaço ocupado que agora abriga manifestações culturais. Era nossa despedida da cidade e de uma das amigas. Aproveitamos muito a noite e de lá partiríamos direto para o aeroporto. Estava tudo ocorrendo conforme o planejado, mas, como viagens sempre nos ensinam a lidar com imprevistos, estávamos diante de mais um: chegando ao aeroporto, mais de uma dezena de vôos havia sido cancelada, sem previsão de normalização. Nós ficamos lá por um tempo, tentando entender o que havia acontecido. Devido ao horário, os guichês da companhia aérea estavam vazios e só se via gente dormindo no chão e nas esteiras de bagagem, sem saber que rumo tomar. Voltamos pra casa.

Viagem tem dessas coisas. O importante é ver o lado positivo, a oportunidade que vem atrelada às imprevisibilidades da vida. Embora nossa ida à Bélgica não tenha ocorrido, nós teríamos mais dois dias em Roma e estava aí a chance de fazer minha tão desejada tatuagem. Logo pela manhã, passada a situação do aeroporto, saímos as quatro em direção a um estúdio de tatuagens perto de um restaurante onde gostávamos de comer, em Pigneto, região famosa pela vida noturna. Conversamos um pouco com os tatuadores que lá estavam e pedi para que as meninas participassem da elaboração do desenho e da escolha do local onde tatuaria em meu corpo. Feito.

Uma hora, um almoço e algumas cervejas depois, lá estávamos nós no estúdio novamente, com o desenho que escolhemos juntas, que resumia a viagem e nossa amizade. Tatuei A.M.O.R. – ou Roma, de trás para frente. A tipografia foi inspirada em um acrônimo visto por toda a cidade, da época do Império Romano S.P.Q.R.

Hoje, com mais uma viagem na bagagem e com a amizade entre a gente se fortalecendo cada dia mais, sempre que alguém me pergunta sobre o significado da minha nova tatuagem, eu respondo o que ela diz por si só: quando a gente coloca o nosso coração naquilo que fazemos, colhemos os melhores momentos, as melhores companhias e as melhores lembranças da vida.

Colina de Gianicolo

Piazza Navona

Coliseu

Vaticano / Basílica de São Pedro

Tatuagem / PSYCHO TATTOO PIGNETO

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